superlotação

Conselho de Saúde e MPF pedem solução para superlotação do Hospital Universitário

Thays Ceretta

Fotos: Charles Guerra (Diário)
O Husm, que já é referência em atendimento à gestação de alto risco, tornou-se o único local da região a fazer partos pelo Sistema Único de Saúde (SUS)

Preocupados com a situação do Centro Obstétrico do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), integrantes do Conselho Municipal de Saúde visitaram o local para ver de perto o que as pessoas passam dentro do prédio. O cenário está longe de mudar. De um lado, gestantes de várias cidades da região que acabam ficando mal acomodadas em cadeiras e macas no pré e no pós-parto por falta de espaço. De outro, a equipe, que continua a mesma, trabalha incansavelmente para não deixar de atender as mulheres em um momento delicado de suas vidas.

Desde o fechamento da maternidade da Casa de Saúde, no dia 1º de novembro, o Husm, que já é referência em atendimento à gestação de alto risco, tornou-se o único local da região para partos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em razão disso, o número de atendimentos por mês aumentou cerca de 60%. A média mensal, até outubro de 2017, era de 180 partos e cesareanas. A partir de então, passou para 242 e 258, nos meses de novembro e dezembro, respectivamente.

Durante a visita, os conselheiros puderam perceber essas condições da unidade. Conforme a presidente, Benildes Maria Giuliani Mazzorani, a preocupação é com a segurança dos usuários e com as atividades desenvolvidas pelos profissionais, já que esses apresentam sinais de cansaço e adoecimento.

- A preocupação básica é a questão da intensa circulação de pessoas e do atendimento. A equipe está dimensionada para um número de usuários com 10 leitos e, no dia da visita, tinha 35 gestantes pelos corredores, em macas, cadeiras e nas salas de consulta. O que precisa ser obervado é que o Husm é referência para gestação de alto risco, e isso dificulta, e muito, as ações realizadas pela equipe por causa da demanda. Eles acababam ficando na situação de esgotamento, prejudicando a saúde do trabalhador e dos usuários - destaca Benildes.

Ontem, havia 26 mulheres internadas e, em sete horas, 29 gestantes passaram por uma consulta.

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HUMANIZAÇÃO 

Outra situação denunciada pelos conselheiros foi a falta de privacidade das gestantes. No relatório, consta que "o momento do nascimento pede tranquilidade, silêncio e confiança no ambiente e na equipe de atendimento, conforme preconiza a Política de Humanização do Parto e do Nascimento".

O chefe da divisão médica do Husm, Larry Argenta, comenta que a visita do Conselho foi positiva, porém, para ele, a solução seria a reabertura da maternidade da Casa de Saúde, já que o hospital absorvia 40% dos partos de baixo risco. Atualmente, a demanda recai toda no Husm, sendo que deveria atender apenas partos de alto risco.

- Mesmo com a gente fazendo cerca de 60% dos partos de alto risco, esse número já ocupava toda a nossa capacidade de atendimento. Daí, de repente, chegam todas essas gestantes que faziam lá (na Casa de Saúde). E não é só o parto, tem a consulta de porta aberta, o que quer dizer que qualquer gestante chega ali e consulta. Isso ocupa tempo, pessoas. Sempre que se atende além do limite, não se trabalha com condições de seguranças ideais para a equipe e para os pacientes - explica.

Ainda conforme Larry, a solução seria o entendimento do Estado com a Casa de Saúde para a reabertura da maternidade. O que era pra ser uma situação transitória já se arrasta há quase três meses.

AÇÕES

Diante desse cenário, o Conselho Municipal de Saúde de Santa Maria, enquanto órgão fiscalizatório de controle social, irá solicitar providências por parte dos gestores estaduais. O relatório aponta que "não é mais uma questão eventual, mas configura um problema de saúde pública, sendo somente um dentre tantos outros evidenciados em nossa cidade envolvendo o governo do Estado do Rio Grande do Sul". Um relatório sobre a situação do maior hospital público da região central do Estado foi entregue ao Ministério Público Federal (MPF).

O órgão solicitou que a 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ªCRS) e a prefeitura de Santa Maria, por intermédio da Secretaria de Saúde, manifestem-se no prazo de 48 horas sobre as providências a serem adotadas em relação a curto médio e longo prazo sobre o fechamento da maternidade da Casa de Saúde, que tem gerado a concentração dos atendimentos às gestantes no Husm, com a sua consequente superlotação. O ofício foi encaminhado no dia 24 de janeiro, ou seja, uma resposta deve ser encaminhada ao MPF até hoje.

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Além da demanda, é preciso paciência e solidariedade 

A capacidade do Centro Obstétrico de Husm é de 10 leitos e, há quase três mês, eles são revezados entre as gestantes. Na última quarta-feira, havia 28 pacientes internadas. Em quatro horas, 15 mulheres passaram por uma avaliação. Além de faltar leitos, falta lugar para acomodar também os recém-nascidos, neste caso, o colo dos pais é o mais indicado. Com a superlotação, as mulheres acabam sendo acomodadas em macas, cadeiras e nas salas de consultas.

Além de ter paciência em função da espera, as pacientes precisam lidar com o calor. Grávida de 38 semana do segundo filho, Rosane Pereira Fernandes, 33 anos precisava de ajuda para respirar melhor. Com um papel na mão, Cleone Brum da Silva, 56 anos, abanava a cunhada.

- Nós viemos cedo, lá de São Sepé. Estou com dor nas pernas, e está difícil de caminhar. Sinto as contrações, mas estou esperando a segunda consulta para saber o que vão fazer. Ficar aqui é complicado, tem muita gente, e ficamos preocupados com os outros também - conta a gestante que está à espera de Lucas.

Luciane Libraga, 37 anos, era uma das 18 mulheres que estavam nessa situação. Sentada na maca, ela aguardava o momento do parto ao lado do marido.

- Viemos na terça-feira, mas como não tinha leito mandaram eu ir pra casa e voltar na quarta-feira bem cedo. Sei que não é uma situação confortável, gostaria de mais privacidade, mas não tem lugar, temos que ter bom senso porque o que a gente vê aqui é uma situação de igualdade - desabada a mãe da Ana Laura que está com 39 semanas de gestação.

A enfermeira do Centro Obstétrico, Ana Paula Bastos, percebe que as famílias entendem o problema, e que toda a equipe está unida, ajudando uns aos outros, mas o estado emocional dos profissionais acaba sendo afetado.

- Mais que o cansaço, eu tenho medo. Fico pensando: "se entrar uma emergência, a dificuldade que vai ser para passar a maca pelo corredor que está lotado de pessoas, bebês e pelos profissionais que circulam". Mesmo com tudo isso, os familiares sabem do problema e notam que a gente está se ajudando - comenta Ana Paula.

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A estrutura

QUADRO CLÍNICO POR TURNO NO CENTRO OBSTÉTRICO

  • Enfermeiro - 3
  • Técnico de enfermagem - 5
  • Médico Ginecologista e obstetra - 2
  • Médico Residente - 2

NÚMERO DE PARTOS POR MÊS

  • Outubro - 78
  • Novembro - 133
  • Dezembro - 156

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